Lugares mágicos

Salvador Peres

De lugares mágicos está o nosso país cheio. Quem o cruza e conhece, de norte a sul, estendendo-se o olhar às ilhas atlânticas de Açores e Madeira, sabe bem dos tesouros que guarda para quem os quer admirar. Há de tudo neste mosaico de beleza formado pelo triângulo atlântico do continente e ilhas. Há lânguidos rios caseiros e caudalosos rios fronteiriços; remansosos lagos e lagoas; montanhas altaneiras, de onde jorram nascentes que se precipitam em cascatas até aprazíveis vales verdejantes; planícies que se perdem na distância, para lá de onde a vista alcança; uma costa bordada de areias douradas, que vem descendo de Caminha, no Minho, até Vila Real de Santo António, no Algarve; o mar, esse mar que liga o continente às ilhas, que nos abriu horizontes infinitos e nos motivou a navegar até aos confins do mundo; o clima acetinado, o sol e os dias esplendorosos de céu azul, que tanto encantam e atraem os forasteiros.

Comece-se por onde se começar, com destino a qualquer lugar do território, há-de sempre achar-se horizontes de beleza, pequenos recantos encantados, paraísos ignorados, secretas maravilhas.

Um desses lugares, a Serra do Larouco, localiza-se na província de Trás-os-Montes, no concelho de Montalegre, distrito de Vila Real. Nos seus 1535 metros de altitude, a Serra do Larouco é a terceira maior elevação do território Continental, fazendo parte do sistema montanhoso da PenedaGerês. Lá bem alto, na Fonte da Pipa, nasce o rio Cávado, que atravessa concelhos transmontanos e minhotos, desaguando no Oceano Atlântico.

Nas primícias de Maio, subi ao cume dessa magnífica e esplendorosa Serra. Encosta acima, a primavera irrompia num colorido de variantes purpúreas, de luminosos violetas e azuis, de seivosos verdes-amarelados, de áureos vermelho-acastanhados. Do alto, em meio de um silêncio prenhe de aromas, a vista, num giro de 360 graus, abarcava os vales do Lima, Tâmega, Cávado e Rabagão, numa aguarela de aldeias espraiando-se na lonjura; lá em abaixo, as terras da vizinha Galiza, cosendo-se com a fronteira da raiana cidade de Montalegre. Lá muito ao fundo, a albufeira da Barragem do Alto Rabagão, com as margens pintadas de amarelo-ocre, sedentas das águas que tardam em brotar dos céus do Barroso.

De lugares encantadores está o nosso país cheio. A Serra do Larouco é um deles. A beleza que dimana daquela sublime escultura montanhosa seduz, atrai e captura os nossos sentidos. Do seu cume tudo quanto se avista está em plena harmonia. Como se a natureza quisesse iniciar ali o traçado perfeito do mundo.

Maio de 2022

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