Disfrute aqui dos poemas
A poesia é a forma mais elaborada e mais antiga de literatura.
É o expoente máximo da capacidade de sintetizar.
O poeta, em duas ou três palavras, consegue exprimir plenamente uma emoção, um sentimento ou uma vivência que, de outra forma, careceriam de muitas palavras para descrever.
Ela é também o espaço de fronteira entre a literatura e a música.
As palavras ordenam-se criando um ritmo. E é esse ritmo que, citando Óscar Lopes, acentua “(…) uma memória que (…) irradia logo
dos usos de certas palavras, em certas conexões, certas entoações, a evocar flutuantes situações de fala; memória que se ecoa através de não se sabe que interstícios comunicativos, ligados entre si (…) uma espécie de música (…)”.
É com muita satisfação que o primeiro livro publicado sob a égide da AREP, no período em que tenho a honra de dirigi-la, seja um livro de poesia.
Maior é o prazer pelo facto de os 25 autores de “A AREP e os seus Poetas” serem colegas da nossa Associação.
Amadores – isto é que escrevem porque amam fazê-lo – que ousam partilhar com os outros a sua arte particular de ver o mundo, usando esta forma bela e complexa.
Embora no nosso País predomine o uso da expressão poética para transmitir a doçura, a tristeza, o lirismo e a nostalgia que vivem na alma de quem os escreve, os poemas também modulam outros temas. Muitos emergem nesta obra e recordam-me do que, sobre a poesia, um dia escreveu Eugénio de Andrade:
… A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão que o chama.
Animal solitário, às vezes irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora andar descalça nas areias do verão.
António Pita Abreu