Salvador Peres
Quando, há dois mil e tal anos atrás, os incansáveis Gaspar, Baltasar e Belchior, inspirados por uma brilhante estrela no céu, chegaram à gruta de Belém, não foi ao Pai Natal que ofereceram o ouro, o incenso e a mirra, mas sim a Jesus de Nazaré, que, na altura, devido à sua tenra idade, ficou singelamente conhecido por Menino Jesus.
A tradição foi perpetuando este terno momento através dos séculos. Mas, há bem pouco tempo, fruto desse magnífico fenómeno chamado "globalização", o Menino Jesus, coitado, que não passou da cepa torta (nas palhinhas nasceu e nas palhinhas continua), passou de moda. Provavelmente, por falta de um assessor de imagem ou de uma boa agência de publicidade, dessas que tanto vendem sabonetes, como presidentes da República.
Modernamente, nascido numa casa da classe média-alta, com seis assoalhadas, incluindo suite com casa de banho privada, lareira, eletricidade, água e gás canalizado, garagem, TV por cabo e internet, sem burros nem vacas à mistura, temos o inefável Pai Natal.
É, portanto, este simpático velhote, de longas barbas brancas, vestido de barrete e pijama vermelho, voando de trenó puxado a renas, com o alto patrocínio de uma poderosa marca de refrigerantes, que distribui as prendas aos meninos que se portam bem, substituindo, nesse papel, o Menino Jesus, que por nunca ter chegado à maioridade, nem sequer dispor de carta de condução, pode jamais fazer concorrência ao luminoso e feérico trenó voador de
“Papai Noel”, como lhe chamam carinhosamente os nossos irmãos brasileiros.
Porém, estando nós na quadra natalícia, época fadada para um clima de grande compreensão e tolerância, atrevo-me a recuperar a figura do Menino Jesus e desejar a todos um Feliz Natal sob a Sua Santa proteção.
Dezembro 2022