Turquia – Parte II

Elisabete Saleiro

Turquia – testemunhos a céu aberto de antigas civilizações – Parte II

No texto publicado na última revista do InformAREP e que constituiu a Parte I deste tema, informámos que o completaríamos nesta edição com a visita ao maior centro arqueológico da Turquia e um dos mais bem preservados do mundo – ÉFESO. Assim, partindo da Capadócia em direção ao sudoeste da Turquia, passamos por uma zona muito bonita chamada Pamukkale, mais conhecida por “Castelos de Algodão” devido às suas piscinas calcárias, de água quente, que descem em socalcos pela montanha e que nos proporcionam uma visão fantástica. Perto, localizam-se as ruínas muito bem preservadas da cidade termal de Hierápolis, muito importante durante o império romano, por onde viriam a passar mais tarde os primeiros apóstolos cristãos. Pamukkale e Hierápolis foram consideradas Património Mundial da
UNESCO em 1988.


  Castelo de Algodão (Pamukkale)                        Ruínas de Hierápolis junto a Pamukkale

Mais 200 km de viagem e chegamos então a ÉFESO, que foi a segunda cidade mais importante do mundo antigo durante o Império Romano, ficando só atrás de Roma. Considerada Património Mundial da Unesco, apresenta um extenso património histórico deixado por gregos e romanos e bem preservado pelos turcos, o que muito contribuiu para o desenvolvimento da economia turca, através do grande fluxo turístico.
Começamos pelo Templo de Artémis, (deusa grega à qual os romanos chamaram Diana), considerado uma das 7 maravilhas do mundo antigo. Infelizmente, só resta uma coluna, dado que os arqueólogos britânicos que começaram as suas escavações no século XIX, levaram os achados mais valiosos incluindo esculturas e partes internas do templo, para o Museu Britânico em Londres.

Do período romano, e passeando pela rua Curetes, encontramos o que resta do Templo de Adriano, construído em memória deste Imperador que foi um dos melhores da sua época. Mas a Biblioteca de Celso, situada no final da rua, é considerada uma das maiores preciosidades de Éfeso. Aqui, também as 4 estátuas gregas que se encontram na sua frontaria e que representam a sabedoria, o conhecimento, a inteligência e a valentia de Celso são réplicas, pois as originais estão no Museu de Viena. Deste edifício de dois andares resta apenas a frontaria. No seu interior existiam vários nichos construídos com o objetivo de preservar os 125 mil pergaminhos que aqui estavam guardados. Mas nada restou desse enorme arquivo devido a um violento incêndio que destruiu o interior desta magnífica biblioteca.
Mesmo ao lado apreciamos as Portas de Augusto, que davam acesso à Ágora, que era o centro social e comercial da cidade.

Biblioteca de Celso e Portas de Augusto

Por último, a visita ao grande Teatro de Éfeso que albergava cerca de 25 mil espetadores e onde se realizavam concertos, peças de teatro, debates políticos, filosóficos e religiosos. Foi aqui que S. Paulo falou aos efésios sobre a doutrina de Cristo, mas estes que adoravam a deusa Diana não apreciavam as suas pregações, originando por vezes alguns tumultos.

Grande teatro de Éfeso

E falando em S. Paulo, permitam-me entrar um pouco mais no domínio religioso até porque Éfeso é considerada uma cidade bíblica e aparece diversas vezes na leitura dos Livros Sagrados. Foi este Apóstolo que fundou a primeira igreja cristã nesta cidade. S. João Evangelista aqui nascido acompanhou S. Paulo na divulgação da doutrina cristã até partirem para a Palestina, onde se juntaram a Jesus.
S. João foi o único Apóstolo a testemunhar o ato da crucificação e Jesus Cristo ter-lhe á pedido antes de morrer que protegesse a Sua Mãe. Os católicos acreditam que ele ao voltar para Éfeso trouxe a Virgem Maria e que ela aqui viveu até ao fim dos seus dias. S. João ainda viveu por longos anos, a maior parte deles exilado na ilha de Patmos (no Mar Egeu), onde terá escrito o livro do Apocalipse. Podemos também visitar as ruínas da Basílica de S. João perto de Éfeso, construída durante o período romano sobre a sua sepultura, e importante centro de peregrinação no mundo antigo.

Basílica de S. João

Por último visitamos a casa que se acredita ter sido a morada de Maria depois da morte de Jesus. Para os crentes esta visita revela-se a mais emotiva da viagem. Subindo ao Monte Koresus, encontramos uma casa muito humilde, de construção romana, em cujo interior foi adaptada uma capelinha onde vêm milhares de peregrinos – cristãos, muçulmanos e de outras confissões. Confesso que quando vi os muçulmanos (com algumas mulheres de burka) a colocarem os seus pedidos à Virgem Maria num mural próprio, no exterior da casa, fiquei intrigada e pedi uma explicação à guia turca. A mesma esclareceu-me que os muçulmanos também honram Maria aceitando Jesus apenas como um Apóstolo. Confessou-me inclusivamente que os seus pais professavam religiões diferentes: a mãe era católica e o pai muçulmano e ambos iam visitar esta capela desde que ela era criança. Em casa, a mãe cooperava com o pai na Festa do Ramadão e este cooperava com a mãe na celebração do Natal. Uma verdadeira liberdade religiosa, mas não me parece que seja a realidade de um modo geral. Creio que seria a sua “fé” na democracia
que levava o casal a respeitar as crenças de cada um.
É, na realidade, um lugar muito especial que transmite paz e tranquilidade. Esta capelinha já foi visitada por três papas – Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

           

                                                        Capelinha no Interior da casa            Casa da Virgem Maria

Terminamos assim o nosso périplo pelos maiores achados arqueológicos da Turquia, esperando que tenham apreciado esta “viagem” que nos conduziu até aos primórdios da História Antiga. Na minha opinião, mesmo que os mais importantes achados pertençam ao espólio dos grandes museus da Europa,
é preferível visitar o que resta destas importantes ruínas no seu próprio local, onde a História na verdade aconteceu.

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