Salvador Peres
Nunca fui à guerra. Foi à distância que assisti às guerras dos outros. Guerras longínquas, sem ruído, sem cheiro a pólvora, sem a visão do sangue e dos corpos despedaçados. Guerras que me foram entrando na vida por muitas vias e mensageiros. A guerra não pede licença para entrar nas nossas vidas e está sempre presente seja qual for o ângulo de observação pelo qual olhemos o mundo. A História mostra à evidência que a vida do Homem tem sido, desde a alvorada dos tempos, um caminhar no fio da navalha, entre a inevitabilidade do conflito e o desejo de concórdia. Tão certo como nascer e morrer, a guerra de hoje é igual à de ontem e a do futuro não diferirá da do passado.
A História está repleta de pontos negros assinalados no mapa da evolução humana. Um mapa que mostra a geografia do mundo cauterizado pelas dores de crescimento causadas por essa mola, tensa e descontrolada, que nos impulsiona, ao mesmo tempo, na direcção do progresso e do abismo. Guerra e paz formam-se dentro do mesmo ovo e irrompem como gémeos, irmãos que se vão defrontar numa batalha sem princípio nem fim, sem vencidos nem vencedores. Será possível a coexistência humana sem que grupos organizados se guerreiem? Até ao presente, e já correm milénios desde o aparecimento do Homem, nunca foi possível estabelecer um clima de paz permanente que abrace todos os povos. Onde houver dois seres humanos, duas cabeças pensantes, duas formas desiguais de olhar a vida, culturas e crenças diferentes, haverá conflito. Tem sido sempre assim. Saberemos viver de outra forma? Talvez, ninguém sabe. Mas o clamor de mil antagonismos que vem do fundo dos tempos não nos deixa grandes esperanças. Sendo o único ser biológico que se guerreia de forma organizada, o Homem distancia-se de todas as outras espécies, que só lutam entre si para suprir as necessidades básicas de alimentação, habitat e protecção.
Entre os humanos luta-se por boas e más razões. Alguns, de forma individual ou em grupo, lutam por causas justas, em defesa do direito à vida, à dignidade, à verdade, à liberdade. Fazem-no, não pelo destemor e destempero agressivo que parece ser a tendência da espécie, mas sim pelo direito a viver em paz e harmonia. Outros, deixam-se instrumentalizar pelo ódio que floresce nas sociedades dominadas por ideologias extremistas, racistas, xenófobas, homofóbicas, geradoras de sentimentos negativos, discriminatórios e preconceituosos.
Como o que ocorre nesta guerra, sem fim à vista, que devora os filhos de duas nações vizinhas