A Magia do Alto Lindoso

Salvador Peres

Vindos de Ponte da Barca, terra de Agostinho Pimenta, futuro Frei Agostinho da Cruz, o poeta-eremita da Arrábida, sobe-se pela N203 até ao Lindoso, actual sede da Freguesia com o mesmo nome, que foi vila e sede de concelho até ao início do século XIX. A estrada acompanha, encosta acima, o Rio Lima, encaixado, nesta parte do percurso, entre as serras do Soajo e Amarela. A paisagem deixa ver, a espaços, o azul prateado do Lima. Em Entre Ambos-os-Rios, o Tamente e o Froufe abraçam este povoado, que deve o seu nome ao facto de estar situado entre estes dois afluentes do Lima.

Estrada acima, são 26 quilómetros até ao Lindoso. Apesar das curvas e contra-curvas, o percurso faz-se em 30 minutos, com prazer e sem aflições, que a paisagem é deslumbrante e a estrada é de piso amigável. Sensivelmente a meio do percurso, passamos por Paradamonte, onde subsistem, à esquerda, as casas do antigo Bairro EDP, contruído para morada dos trabalhadores afectos à velha Central do Lindoso, entrada ao serviço em 1922, e, à direita, o caminho que leva a outras edificações da empresa, o edifício do Clube de Pessoal, o antigo Campo de Férias da EDP e a altaneira Pousada.

A minha ligação ao Lindoso começa no decurso da construção da barragem, projectada em 1983 e concluída e inaugurada em 1992. Deverei ter visitado, pela primeira vez, o estaleiro das obras por 1988. A partir daí, acompanhei a construção de empreendimento, indo regularmente ao estaleiro com jornalistas que iam cobrindo a edificação da maior obra hidroeléctrica do país.

São muitas e boas as memórias dessas idas ao Lindoso, quando as obras estavam no seu ponto mais alto, com mais de um milhar de trabalhadores a formigar pela imensidade do estaleiro. Em 1992, então quadro do Gabinete de Comunicação da EDP, dirigido pelo Engº António Ribeiro dos Santos, fiz parte da equipa que esteve na organização da imensa logística que envolveu a inauguração da Barragem. Em 1994, já como primeiro responsável pelo Gabinete de Comunicação da então criada CPPE, a minha ligação ao Empreendimento Hidroeléctrico do Alto Lindoso tornou-se ainda mais assídua, com visitas regulares à Barragem, muitas vezes acompanhado de jornalistas idos de Lisboa para testemunharem, in loco, a magnitude e importância estratégica do Alto Lindoso, no contexto da produção de energia eléctrica em Portugal.

As águas límpidas e rumorejantes que escorrem das serranias e afluem ao seio do Lima, o ar puro da montanha, o matiz dourado dos rochedos e da vegetação amarelada que pode ser apreciado, por alturas da Primavera e Verão, na Serra Amarela, as terras do Soajo, que nos brindam com a envolvente paradisíaca de cascatas e lagoas e o fascinante terreiro dos espigueiros. Essa forte ligação que fui ganhando a terras do Lindoso é, ainda hoje, motivo de idas frequentes a um lugar que continua a encantar-me pela sua magia e serenidade.

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