Salvador Peres
Anda o povo enfermiço com a neura da Inteligência Artificial. Dizem os entendidos que há justificadas razões para isso. A Inteligência Artificial, diz-se, vai, num futuro mais próximo que longínquo, tomar conta de tudo, vassourando os humanos para a condição de escravos. Os sintomas, no dizer de insuspeitos peritos, já por aí moram. Quem, por exemplo, tem o azar de precisar de informações das inúmeras empresas de serviços a que está ligado, já se depara com uma voz robótica que tem resposta para quase tudo, menos para aquilo que o cliente necessita: um interlocutor humano que o entenda e lhe resolva o problema. E é para quem quer! Quem não gostar, que reclame para outro humanoide robótico, que regista a queixa, agradece e passa à frente.
Neste meio tecnologicamente avançado, só há dois lados: o artificialmente inteligente: a máquina que se mostra absolutamente infalível; e o genuinamente ignorante: o pateta falível que somos todos nós. Os sábios são peremptórios: não há forma de combater a Inteligência Artificial; estamos condenados a viver com ela. Resta-nos esperar que no final deste processo imparável, que nos atira para um futuro incerto, ainda reste uma nesga de humanidade. E que os efeitos benéficos da Inteligência Artificial não acabem por nos acorrentar numa eterna Burrice Natural.