Um ano a mais significa um ano a menos?

Um ano a mais significa um ano a menos?

Salvador Peres

Um ano a menos não significa um ano a mais. Isso parece indiscutível. Digo “parece”, porque vivendo nós num mundo em que o que parece vai contando mais do que o que é, o melhor é usar de cautelas. Sendo mais fácil jogar no parecer que no ser, não admira que, para os outros, mesmo sendo, as mais das vezes, acabemos parecendo. É confuso? Cada um que decida. No final, contem os votos. Ganhou o ser, ganhou o parecer? É aceitar: a verdade é território da maioria.
Hoje, tudo se discute, mesmo o indiscutível. O que é bom, digo eu. Melhor dizendo: parece-me bom. Mas se as certezas parecem estar na crise da meia-idade, como devo responder à pergunta: um ano a mais significa um ano a menos?
Com tantas teorias de relativismo, viagens no tempo, buracos de minhoca, universos paralelos e outros desmandos da nova física, que parece querer fundir-se na metafísica, hesito. Para falar do tempo, não do atmosférico, mas daquele que começa no zero e acaba no infinito, é preciso tempo, desconfio que também infinito. E não é que estão outra vez a ameaçar-nos com a Bomba! Há um cheiro acre a radiação atómica nas fuças de autocratas e ditadores. Interroga-se o povo: carregam no botão, não carregam no botão? Amedrontam-se uns, atiram-se para a frente de peito aberto, outros.
Andam políticos, de olhos vendados, a jogar à cabra-cega com o perigo. O povo vota neles, crendo que têm alma e dedo leve, e que jamais carregarão no botão. O pior são as máquinas, os robôs. Esses, têm muitos circuitos integrados, mas ainda não se lhes inventou uma alma. E, se chegam ao botão, sabe-se lá o que decidem!
Mas para quê tanta agitação? O mundo acaba mesmo? Se sim, em acabando, está acabado. E quando acabar, acabou. Se nada restar, sobrará nada. Mas não acabando, não acaba. Pelo menos por enquanto. Prometido está que um dia, como tudo o que foi gerado, entregará a alma ao criador. Seja ele um dos muitos deuses adorados pelos homens ou aquele ovo
cósmico de onde se diz que tudo foi criado.
Nesta intermitência temporal, esperando que venha ou não venha a Bomba, o melhor mesmo é irmos cumprindo a tradição e preparar o Natal que espreita já aí à porta. Festas Felizes para todos, sem excepção, felizes ou infelizes, crentes ou descrentes, preocupados ou indiferentes com o estado do mundo. Por enquanto, sólido.

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