Palavras e memórias deram vida ao primeiro Café Literário, no Porto

A Delegação Norte da AREP inaugurou, no dia 8 de abril, na Rua de Camões, no Porto, o seu “Café Literário”, reunindo 20 associados. A primeira sessão, intitulada “Um Banquete de Palavras”, teve como foco a mais recente obra de Angelino Pereira, também associado da AREP, A Mãe de Sete.

Angelino Pereira foi colaborador da EDP na área da Segurança e Condições de Trabalho e é professor do ensino superior, com diversos estudos publicados. Dedicado à leitura, à escrita e a causas sociais, tem vindo a doar grande parte da sua obra a projetos comunitários. A Mãe de Sete é o seu 17.º livro, numa carreira literária iniciada em 1995 com No Conto do Meu Poema.

Logo no início do romance, percebe-se que a obra se centra na mulher do início do século XX, frequentemente tratada como propriedade e afastada de oportunidades. Essas mulheres, últimas a aceder à escolaridade obrigatória, eram mão de obra explorada e vítimas de uma sociedade permissiva para os homens e repressiva para quem não se encaixasse nos padrões impostos.

O autor retrata essas desigualdades com sensibilidade, traçando paralelos com os dias de hoje. Nos primeiros capítulos, no nascimento de Berta, filha de Josefina, expõe sem rodeios os abusos cometidos pelos mais poderosos sobre os seus “serviçais”, tratando-as como propriedade e instrumento de prazer. São elas que enfrentam as consequências, muitas vezes abandonadas e desprotegidas.

Para além do enredo, o romance valoriza-se pela introdução de factos históricos, informações sobre lugares, tradições e costumes, enriquecendo o contexto e criando uma ligação autêntica com a época retratada. A obra também contempla reflexões sobre a condição humana, ética, e temas políticos ligados às ex-colónias, às relações de poder nos campos e ao surgimento dos movimentos de libertação que puseram fim ao colonialismo português.

O texto, menos convencional na sua estrutura, permite ao autor intercalar a narrativa com reflexões pessoais. O resultado é uma leitura rica e questionadora sobre a humanidade, o passado e o presente.

O evento permitiu aos participantes conversar com o autor sobre o seu percurso e as motivações que o movem a escrever, frequentemente inspiradas pelas suas viagens. A sessão terminou com uma sessão de autógrafos, acompanhada, como não podia deixar de ser, por café e bolinhos saudáveis.

Fernanda Terezo

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