As burlas a pessoas mais velhas são cada vez mais frequentes e ganham novas formas. Por telefone, email ou mesmo à porta de casa, há quem se aproveite da boa-fé dos seniores para obter dinheiro ou dados pessoais. Muitos destes esquemas são difíceis de detetar à primeira vista. Ao conhecermos os esquemas mais usados, conseguimos proteger-nos melhor — e proteger quem nos rodeia.
Um dos casos mais mediáticos dos últimos anos envolveu uma empregada doméstica que casou com o seu patrão de 101 anos, que sofria de demência. O objetivo era herdar os seus bens, avaliados em dois milhões de euros. O casamento e o testamento foram anulados em tribunal, e a mulher acabou condenada por sequestro e simulação de casamento. Este episódio mostra como a confiança pode ser usada como arma por quem tem más intenções, sobretudo quando há ausência de acompanhamento familiar.
Outro esquema recorrente envolve pessoas que se fazem passar por funcionários de entidades públicas, como a Segurança Social. Em 2024, surgiram vários alertas sobre falsos técnicos que visitavam idosos em casa com a desculpa de atualizarem dados ou entregarem benefícios. Em alguns casos, pediam para ver o dinheiro que os idosos tinham guardado, ou até exigiam pagamentos. A Segurança Social sublinha que os seus técnicos nunca pedem dinheiro e só realizam visitas com marcação prévia. Se alguém aparecer sem aviso, o melhor é não abrir a porta e contactar diretamente a entidade.
Há também fraudes feitas à distância. Um dos esquemas mais usados é a burla com a aplicação MB Way. Os burlões fingem interesse em comprar produtos anunciados online e convencem a vítima a associar o seu número de telemóvel a um cartão bancário. Assim, conseguem aceder ao dinheiro da conta. Em Leiria, 29 pessoas foram acusadas de dezenas de burlas deste género, com várias vítimas seniores. A aplicação é segura quando usada corretamente, mas é essencial nunca partilhar códigos nem seguir instruções de desconhecidos.
Os emails fraudulentos também continuam a ser um risco, sobretudo para quem não está habituado a navegar online. A Autoridade Tributária tem sido frequentemente usada em falsificações. Os burlões enviam mensagens a dizer que o destinatário vai receber um reembolso ou que tem dívidas que podem resultar numa penhora. Os emails contêm links falsos que, quando clicados, roubam dados bancários ou instalam software malicioso. A recomendação é simples: nunca clicar em links estranhos e apagar estas mensagens sem responder. A AT nunca pede dados sensíveis por email.
Outro tipo de burla, considerado particularmente perigoso, é feito por quem se faz passar por funcionário bancário. Em Lisboa, um homem foi detido por visitar idosos com a desculpa de trocar cartões ou atualizar dados. Convencia as vítimas a entregar-lhe os cartões e respetivos códigos. No total, conseguiu roubar quase 164 mil euros antes de ser apanhado. Nenhum banco legítimo pede cartões, códigos ou acessos — muito menos ao domicílio.
Por fim, há os esquemas que exploram os laços familiares. Um dos mais comuns nos últimos tempos começa com uma simples mensagem: “Olá pai, perdi o telemóvel. Este é o meu novo número.” Depois, vem o pedido de ajuda urgente — uma transferência de dinheiro para resolver um problema de saúde, pagar uma multa ou saldar uma dívida. A mensagem parece inofensiva, mas é um esquema bem montado. Só em 2023, a GNR registou mais de três mil burlas a idosos, muitas com este método. Nestes casos, o mais seguro é confirmar diretamente com o familiar antes de fazer qualquer pagamento.
Todos estes exemplos mostram como os burlões estão atentos, persistentes e prontos para explorar qualquer sinal de distração. A boa notícia é que, com informação, atenção e apoio entre gerações, podemos dificultar-lhes bastante a tarefa. Falar abertamente sobre estes riscos e partilhar este tipo de informação é o primeiro passo para evitar que mais alguém caia nestes enganos.
Como prevenir estas fraudes?
A melhor defesa contra as fraudes é a informação. Se já tem alguma idade, siga estas dicas simples e úteis:
- Desconfie de contactos inesperados. Seja à porta, por telefone ou mensagem, mantenha a cautela. Muitas burlas começam com uma conversa aparentemente inofensiva.
- Nunca entregue cartões nem partilhe códigos. Nenhum banco ou entidade séria lhe pedirá esses dados. Se alguém insistir, é burla.
- Fale com familiares antes de decidir. Uma segunda opinião pode evitar enganos e dar-lhe mais segurança.
- Apague emails ou mensagens suspeitas. Se não conhece o remetente ou algo lhe parecer estranho, não abra — pode ser perigoso.
- Confirme com as entidades oficiais. Ligue para os contactos verdadeiros antes de agir. Um telefonema pode evitar problemas.
- Nunca é tarde para se proteger. A informação é a melhor defesa. E não está sozinho — peça ajuda sempre que precisar.
- Não fale de dinheiro com estranhos. Mesmo que pareçam simpáticos, não revele nada sobre as suas contas ou pensão.
- Não ceda à pressão. Se pedirem uma decisão imediata, diga que precisa de tempo. É sinal de alerta.
- Tenha o contacto de um familiar à mão. Em caso de dúvida, ligue logo a alguém da sua confiança.
AREP promove a informação como forma de proteção
Enquanto associação solidária que integra trabalhadores e reformados da EDP e da REN, a AREP está profundamente empenhada na proteção e bem-estar dos seus associados. Queremos que os nossos seniores vivam esta fase da vida com tranquilidade, segurança e dignidade. Isso começa por estarem bem informados.
As fraudes existem, infelizmente, mas podem ser travadas com atenção, espírito crítico e apoio entre gerações. Partilhe este artigo com familiares e vizinhos. Um alerta a tempo pode valer mais do que um pedido de desculpas tardio.