Salvador Peres
A praia não é Saint-Marc-sur-Mer, situada na comuna de Saint-Nazaire, na região do Loire-Atlantique, onde Jaques Tati filmou “As férias do Senhor Hulot”. Esta de que falamos está localizada na portuguesíssima Costa Vicentina e chama-se Praia de Morgavel. Uma reentrância de mar, acobertada entre esparsos rochedos, com um extenso areal no pico da maré baixa, salpicado por pequenas lagoas que o mar vai deixando quando recua para a baixa-mar. Não estamos em Saint-Marc-sur-Mer, onde pontua o Hotel de La Plage, memória viva das peripécias do Senhor Hulot, mas sim num pequeno paraíso situado entre S. Torpes e Porto Covo. Acima da praia, dois bons restaurantes, o Arte e Sal e o Bom Petisco. Mas não é disso que reza esta crónica. Logo à entrada do filme de Tati, há uma cena em que se vê uma camioneta da carreira a chegar à praia. À janela, rostos deslumbrados de crianças olham a praia que cresce a toda a largura do seu olhar. E o ecrã é pincelado pelo colorido da alegre cacofonia dos veraneantes que mergulham nas ondas e riem e brincam na brancura do areal. Na praia de Saint-Marc-sur-Mer, recriada pelo génio de Jacques Tati, e na Praia de Morgavel, sobrevoa o mesmo encantamento da gritaria das crianças, saltitando na espuma da rebentação, o clamor que ressoa vindo do areal e o odor a maresia, os sons gorgolejantes da água, o crocitar das gaivotas, aquela indefinível sensação de liberdade que a praia nos oferece. Jacques Tati foi capaz de transpor para o ecrã toda essa magia, todo esse ambiente de vida e alegria que se vive numa praia. Quem viu o filme e depois vai até uma das muitas belas praias que pontuam a nossa imensa costa atlântica sabe do que falo.